domingo, 25 de setembro de 2011

Anatomia do ego

O cérebro decifrado por Damásio e Nicolelis

RESUMO 
Dois neurocientistas compõem retratos do cérebro como um órgão ainda mais complexo e maleável do que se pensava: enquanto o brasileiro Miguel Nicolelis busca implantes cerebrais para tentar fazer paraplégicos andarem, o português António R. Damásio quer ir mais longe e descobrir os mistérios da consciência.
MARCELO LEITE


EM CONDIÇÕES NORMAIS,
seria descabido citar numa mesma resenha o último livro do português António R. Damásio e o do brasileiro Miguel Nicolelis. A primeira obra de divulgação de Nicolelis, "Muito Além do Nosso Eu", é um bom trabalho.

Damásio, por sua parte, escreveu mais uma obra-prima: "E o Cérebro Criou o Homem". Há muitas razões para reuni-los, e não só pelo fato de ambos terem o português como língua materna e escreverem em inglês. Damásio e Nicolelis são exemplos excepcionais de pesquisadores da periferia que venceram na arena mais sangrenta da ciência mundial, os Estados Unidos.

Confirmam, com isso, a regra de que emigrar é o primeiro passo na senda do sucesso e da fama em ciência natural. Nicolelis tornou-se uma celebridade no Brasil. "Voltou" ao país para fundar o Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), na periferia da periferia -voltou entre aspas, pois seu domicílio principal ainda é Durham, na Carolina do Norte, onde detém cátedra na Universidade Duke.

Tem bom trânsito na cúpula petista. Leva plateias às lágrimas quando promete o pontapé inicial da Copa de 2014 por um brasileirinho paraplégico metido num exoesqueleto. Protagonizou o mais rumoroso rififi da pesquisa nacional em tempos recentes: um racha no embrionário IINN-ELS, que levou à migração de seus principais cientistas para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A boa surpresa é que Nicolelis, entre tantas idas e vindas, produziu um livro interessante, culto e informativo. Não sem problemas, como tudo. E eles começam pelo subtítulo: "A nova neurociência que une cérebro e máquinas e como ela pode mudar nossas vidas".


PENSAMENTO SÍMIO
Nicolelis notabilizou-se como pesquisador porque seu grupo conseguiu fazer macacos moverem robôs "só com a força do pensamento": microeletrodos inseridos no cérebro do animal amostram sinais elétricos que, interpretados por computadores, reproduzem nas máquinas movimentos harmoniosos comandados pelo símio. É uma façanha e tanto.

Pode não ser suficiente para ganhar um Nobel -o tempo dirá. E por certo é insuficiente para funcionar como princípio explicativo da "nova neurociência", que mal começa a orientar-se no labirinto da malfadada dicotomia mente-cérebro. Serve, contudo, como fio condutor de uma história cativante.

Para fazer funcionar e para explicar os feitos de seu aparato biônico, Nicolelis toma partido em favor dos "distribucionistas" de Thomas Young [1773-1829], contra os "localizacionistas" de Franz Joseph Gall [1758-1828]. Ou seja, o cérebro não se reduz a um mosaico de módulos especializados (visão, tato, linguagem etc.), muito menos a uma coleção de neurônios correspondentes a objetos únicos.

Opera mais como uma orquestra: timbres, sons, notas e ritmo compõem o concerto de vozes e naipes que constitui uma sinfonia. "Muito Além do Nosso Eu" [trad. Miguel Nicolelis, 552 págs., R$ 39,50] se abre com uma bela narrativa sobre música, conhecimento e ciência, a partir de um episódio vivido pelo autor quando ainda estudante na Faculdade de Medicina da USP.

A homenagem ao mentor César Timo-Iaria convoca a ópera "Parsifal", de Richard Wagner, para introduzir o funcionamento do cérebro como um processo sinfônico. Cada sucessão de pensamentos, percepções, imagens ou ordens motoras corresponde à ativação (disparos simultâneos) de populações de neurônios em diversas partes do órgão.

À metáfora operística segue-se a política: populações podem produzir eventos espantosamente coordenados, como o comício do movimento Diretas Já em 16 de abril de 1984, na praça da Sé paulistana. De analogia em analogia, a narrativa de Nicolelis flui sem maiores impedimentos (a não ser por tropeços aqui e ali, como uma anedota deslocada sobre o tenor italiano Enrico Caruso e o presidente americano Ted Roosevelt). Quase leva o leitor a esquecer que está diante, ainda assim, de uma árida aula de neuroanatomia e neurofisiologia.


MOTOR CENTRAL
Lição enviesada, porém. Em que pese o esforço perceptível de oferecer visão abrangente do funcionamento do cérebro, Nicolelis não chega a compor uma explicação da mente conciliável com a experiência interior de quem o lê -e que busca na literatura de divulgação sobre neurociência justamente a oportunidade de ir um pouco além do próprio eu.

Tudo, no livro, acaba girando em torno do tema da motricidade, que afinal é a área de especialidade do pesquisador da Duke. A concepção de um cérebro não compartimentado e plástico (em constante adaptação), mesmo que em perfeita sintonia com a neurociência contemporânea, serve a um propósito mais pragmático que elucidativo: promover o programa de pesquisa de Nicolelis como a revolução que (ainda não) é.

Tendo demonstrado e utilizado experimentalmente a incorporação de objetos exteriores (instrumentos, próteses, robôs) ao esquema mental do organismo primata, o autor parece encará-la como princípio organizador e até como razão de ser do cérebro. "Acredito que essa fome do cérebro por incorporar ferramentas abrirá um novo capítulo na evolução", escreve, "oferecendo-nos meios de estender nossos corpos, alcançando talvez a imortalidade, de uma maneira muito particular: preservando nosso pensamento para a posteridade."

Em lugar de morte cerebral, vamos todos um dia brindar o "upload" de nossos egos numa máquina. Pode ser. Mas isso está muito além -demasiado além- do nosso eu, aqui e agora, em geral atormentado por coisas menos devastadoras que paralisia, cegueira ou surdez, como lembranças ruins, compulsão por comida ou drogas, depressão.

Damásio prefere andar para trás, no passo da evolução por seleção natural, o que lhe permite alcançar explicações a um só tempo mais modestas e mais portentosas. Seu olhar é retrógrado, e sua engenharia, reversa. O subtítulo de seu livro, em inglês, trai o escopo ambicioso: "Construindo o cérebro consciente" -já o título inspirado, "Self Comes to Mind", foi vertido pela editora brasileira como um pobre "E o Cérebro Criou o Homem". O livro chega no final de outubro às livrarias brasileiras, pela Companhia das Letras [trad. Laura Motta, 416 págs., R$ 49]. 


BRAÇOS-FANTASMAS
Curiosamente, os dois autores dedicam muitas páginas e um lugar central nas respectivas obras ao intrigante fenômeno neurológico dos membros-fantasmas (e a maneira ainda mais intrigante de tratá-lo, com uma caixa de espelhos).

Pessoas amputadas não só podem manter a percepção de membros perdidos como experimentar sensações concretas nele, por exemplo coceira e dores lancinantes. (Um terceiro livro, "Proust Foi um Neurocientista - Como a Arte Antecipa a Ciência", do jornalista americano Jonah Lehrer, também se debruça sobre essas e outras fantasmagorias, como a concepção de memória do escritor francês, e propicia leitura bem mais leve.)

Seria um fiasco tentar reproduzir aqui, em poucas linhas, a complexidade do distúrbio e da cura; além disso, iria desmanchar parte do prazer do leitor de Nicolelis e Damásio. Basta dizer que os membros-fantasmas dão testemunho da refinada capacidade do cérebro de mapear e monitorar, a todo instante, estado e posição de cada parte do corpo.

Mais ainda, uma capacidade de sintetizar a miríade de sensações e informações que permitirá a emergência evolutiva de um "self" e depois de um "eu autobiográfico".

Em biologia, recorda Damásio, não existe lugar para dicotomias como corpo/mente. Há que entender o contínuo de complexidade que evolui dos automatismos do sistema nervoso de uma medusa e passa por vários graus de "senciência" (como diria o bioeticista Peter Singer) até a barroca mescla de imagens, memórias e conceitos que caracteriza a consciência.

Na sua versão completa, esta faculdade superior só existe em humanos, mas é fácil reconhecer seus componentes e precursores em outros primatas, cães e golfinhos, entre outros.


CORPO X MENTE
Na base de todos os fenômenos mentais está a sobrevivência, ou o que o pesquisador português chama de regulação homeostática (equilíbrio do organismo com o meio).

Neurônios são células especiais, porque seu metabolismo propicia reter, transmitir e processar informação, mas nem por isso deixam de ser células e de ter metabolismo. A mente só faz sentido e só pode funcionar na companhia de um corpo que sente, reage e atua.

O valor fundamental é biológico; mesmo quando a consciência e a cultura emergem, sua meta é a de uma vida melhor (ou deveria ser).

O bonito da obra de Damásio está em apontar o correlato dessa perspectiva unicista -cuja inspiração ele busca em Baruch Spinoza [1632-1677], contra René Descartes [1596-1650]- na própria anatomia conectiva do cérebro e na arquitetura da mente, que para ele remontam ao mesmo.

O pensamento nasce ele próprio corporal, fibroso. O "self" mais primitivo se compõe de meras "disposições", aquilo que o corpo sente na presença de certos objetos e situações, disposições essas integradas por meios das estruturas mais antigas do cérebro, como o tronco cerebral e o hipotálamo.

A elas vão se somando, sobretudo na evolução dos mamíferos, funções mais complexas como imagens (representações detalhadas de objetos por redes de neurônios no córtex cerebral), sentimentos (representações de emoções) e memória (recuperação de representações), às quais Damásio vai correlacionando estruturas e redes de estruturas encefálicas.


MARCAS INESQUECÍVEIS
Surge para os olhos da mente do leitor, aos poucos, um modelo -complicado e conjectural, mas um modelo- sobre como opera seu próprio cérebro. Nesse modelo, o "eu" mais primitivo das disposições não desaparece nem é relegado a funções subalternas.

Ao contrário, constitui uma peça-chave na capacidade de recuperar memórias e integrá-las na narrativa coerente, ou quase, que articula o que se poderia chamar de "eu consciente" (ou autobiográfico).

Sem esse "self nuclear", seríamos incapazes de orientar nossa conduta no mundo com base num conjunto de imagens interiores.

Para Damásio, as emoções mais fundamentais associadas com os objetos e acontecimentos permanecem como as marcas que permitem reativar os circuitos de neurônios corticais que representam esses objetos e acontecimentos. O fio da meada, por assim dizer.

É mais prudente aqui dar a palavra ao próprio autor, sob pena de empobrecer sua prosa esclarecedora: "[...] as fundações do processo de consciência são os processos inconscientes a cargo da regulação da vida -as disposições cegas que regulam funções metabólicas e estão alojadas nos núcleos do tronco cerebral e do hipotálamo; as disposições que oferecem recompensa e punição e promovem impulsos, motivações e emoções; e o aparato mapeador que fabrica imagens, na percepção e na recordação, e que pode selecionar e editar tais imagens no filme conhecido como mente. A consciência é só a última a chegar para o gerenciamento da vida, mas leva todo o jogo uma etapa adiante. Espertamente, ela mantém os velhos truques à mão e deixa que eles façam o trabalho mais pesado".

Nesta altura, com a entrada em cena do tema do inconsciente, o leitor já estará pensando em Sigmund Freud ou no tópico não menos abrasador da responsabilidade moral. Não são poucos os que, movidos talvez pela dificuldade de manter as rédeas do próprio "self", cedem à compulsão de gritar "fogo" no inseguro edifício civilizatório, quer dizer, arriscam lançar a questão subversiva: se o que tomamos por decisões e comportamentos conscientes são no fundo ditados por disposições inconscientes, como exigir a responsabilização de qualquer sujeito por seus atos?

ILUSÃO DE ÉTICA 
Damásio não foge da dificuldade, e sua resposta vem dura e brilhante: a consciência não é um epifenômeno inútil ou manifestação ilusória da complexidade cerebral.

Quem assim pensa se esquece de que o aparente automatismo das disposições inconscientes é também ele produzido e canalizado pelo histórico de decisões, emoções e ações que constituem o eu autobiográfico.

"Comportamentos morais são um conjunto de habilidades adquirido no curso de repetidas sessões de prática e ao longo de muito tempo, informado por princípios e razões conscientemente articulados e, no mais, inscrito como 'segunda natureza' no inconsciente cognitivo", ensina o autor.

Estamos aqui, já se vê, muito além das máquinas e dos determinismos -de volta à intricada anatomia do ego.

Embora Nicolelis também extraia da neurociência uma mensagem de libertação e transcendência, ele a terceiriza para a tecnologia: máquinas conectadas ao cérebro rebentarão os grilhões que ainda ancoram o humano no animal.

Apesar de todo o seu patriotismo progressista e futebolístico, Nicolelis resulta pouco brasileiro na sua expectativa prometeica e tecnocientífica.

O Brasil, mais afeito aos atalhos do jeitinho do que à disciplina laboriosa do conhecimento sistemático, precisa de mais cientistas e divulgadores como ele ou Marcelo Gleiser. Gente capaz de pôr na ordem do dia e no imaginário das pessoas, pela força do exemplo de sucesso no exterior, coisas tão complexas quanto a neurofisiologia e a física.

A neurociência propriamente dita, de sua parte, carece mais de figuras ousadas como o muito português Damásio. Este nos desafia a novos descobrimentos e convoca à aventura de buscar a libertação "da tirania das respostas imediatas" do cérebro com auxílio do maior legado da natureza para a humanidade: "Talvez a capacidade de navegar o futuro nas águas de nossa imaginação, guiando a embarcação do 'self' para um porto seguro e produtivo".

A concepção do cérebro não compartimentado e plástico serve a um propósito pragmático: promover o programa de pesquisa de Nicolelis como a revolução que (ainda não) é 

Damásio prefere andar para trás, no passo da evolução por seleção natural, o que lhe permite alcançar explicações a um só tempo mais modestas e mais portentosas 

O Brasil, mais afeito aos atalhos do jeitinho do que à disciplina do conhecimento sistemático, precisa de mais cientistas e divulgadores como Nicolelis ou Gleiser 


A neurociência mais carece de figuras ousadas como Damásio, que nos desafia a novos descobrimentos e a buscar a libertação "da tirania das respostas imediatas" do cérebro

sábado, 25 de junho de 2011

Raciocínio evoluiu por causa de discussões



Estudo contraria ideia de que a razão se desenvolveu para achar a verdade

Teoria de cientistas franceses explicaria porque raciocínio das pessoas é cheio de inconsistências e vieses
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Num artigo impactante, que vira do avesso alguns dos pressupostos da filosofia e da psicologia evolucionista, os pesquisadores franceses Hugo Mercier (Universidade da Pensilvânia) e Dan Sperber (Instituto Jean Nicod) sustentam que a razão humana evoluiu, não para aumentar nosso conhecimento, mas para nos fazer triunfar em debates.
Desde alguns gregos, mas especialmente com René Descartes (1596-1650), consolidou-se a ideia de que a razão é um instrumento pessoal para nos aproximar da verdade e tomar as melhores decisões possíveis. "Penso, logo existo" é a divisa que celebrizou o pensador francês.
Se esse esquema é exato, como explicar que o pensamento humano erre tanto? Como espécie, fracassamos nos mais elementares testes de lógica, não conseguimos compreender noções básicas de estatística e nascemos com uma série de vieses cognitivos que conspiram contra abordagens racionais.
A situação não melhora quando quando abandonamos o reino das abstrações para entrar no terreno do interesse pessoal. Vários estudos têm mostrado que a maioria das pessoas comete verdadeiros desatinos lógico-financeiros ao administrar seus fundos de pensão.
Mercier e Sperber afirmam que é possível explicar esse e outros paradoxos se deixarmos de lado a noção clássica para adotar o que chamam de teoria argumentativa. Apresentam uma convincente massa de estudos e evidências em favor de sua tese.
A ideia básica é que a capacidade de raciocinar é um fenômeno social e não individual, cujo objetivo é persuadir nossos semelhantes e fazer com que sejamos cautelosos quando outros tentam nos convencer de algo.

SOLUÇÕES
A teoria, dizem os autores, não só faz sentido evolutivo como ainda resolve uma série de problemas que há muito desafiavam a psicologia.
O mais importante deles é o chamado viés de confirmação, que pode ser definido como "buscar ou interpretar evidências de maneira parcial, para acomodar crenças, expectativas ou teorias preexistentes". O fenômeno está na base daquela mania irritante de políticos de só responder o que lhes interessa.
O viés de confirmação é ainda uma das razões de persistência no erro, mesmo quando ele nos prejudica.
Temos dificuldade para processar informações que contrariam nossas convicções. Em suas versões extremas, ele produz pseudociências, fé em religiões e sistemas políticos e também teorias da conspiração.
Sob o modelo clássico, o viés de confirmação é uma falha de raciocínio mais ou menos inexplicável.
Mas, se a razão foi selecionada para nos fazer vencer em debates, então faz sentido que eu busque apenas provas em favor da minha tese, e não contra ela.
Adotada a lógica da produção de argumentos, o que era erro se torna um dos pontos fortes da teoria.

FENÔMENO SOCIAL
O modelo tem, evidentemente, implicações fortes. A mais evidente delas é que a razão só funciona bem como fenômeno social. Se pensarmos sozinhos, vamos muito provavelmente chafurdar cada vez mais fundo em nossas próprias intuições.
Mas, se a utilizarmos no contexto de discussões, aumentam bastante as chances de, como grupo, nos dar bem. Ainda que nem sempre, por vezes as pessoas se deixam convencer por evidências.
Trabalhos mostram que, quando submetidas a situações nas quais é preciso chegar a uma resposta correta (testes matemáticos ou conceituais), pessoas atuando sozinhas se saem mal, acertando em torno de 10% das respostas (Evans, 1989).
Quando têm de solucionar os mesmos problemas em grupo, o índice de acerto vai para 80%. É o chamado efeito do bônus de assembleia.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A vontade de Deus

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO - Pessoas religiosas costumam dizer que seguem a vontade de Deus. A questão relevante então é descobrir como elas descobrem o que Deus quer, já que só uma minoria alega receber ordens diretas do Criador.

É justamente sobre esse intrigante ponto que as pesquisas de Nicholas Epley, da Universidade de Chicago, lançam luzes.

Epley e seus colaboradores entrevistaram centenas de pessoas e as inquiriram sobre temas moralmente carregados, como aborto, ação afirmativa, casamento gay, pena de morte e legalização da maconha. Também perguntaram como elas achavam que Deus via essas questões. A título de controle, pediram que os entrevistados dissessem quais seriam as respostas do americano médio, George W. Bush e Bill Gates sobre esses temas.

Houve grande coincidência entre as opiniões do indivíduo e aquelas que ele atribui a Deus. Por exemplo, se o sujeito é a favor da pena de morte, tende a dizer que o Criador também a defende -e vice-versa. Até aí não há muita surpresa. Vários estudos psicológicos já haviam demonstrado que nossas próprias convicções influem bastante sobre aquilo que imaginamos que outras pessoas pensam.

Os trabalhos de Epley ficam mais interessantes quando ele induz os participantes a modificar seu juízo, convidando-os a ler diante de uma câmara discursos contrários a seu ponto de vista inicial. Aí, como previsto pela psicologia experimental, o sujeito tende a reformular suas ideias. O curioso foi constatar que, nessas situações, a "opinião de Deus" também mudou, mas as atribuídas a Bush e Gates não.

Cereja no bolo: Epley também submeteu algumas de suas cobaias a estudos de neuroimagem, para constatar que, quando pensavam sobre o que Deus diria, ativavam os mesmos circuitos usados no pensamento autorreferencial.

O lado bom disso tudo é que ninguém precisa fazer muita força para estar do lado de Deus.

Dear God, please confirm what I already believe

http://www.newscientist.com/article/dn18216-dear-god-please-confirm-what-i-already-believe.html



* 20:00 30 November 2009 by Andy Coghlan
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God may have created man in his image, but it seems we return the favour. Believers subconsciously endow God with their own beliefs on controversial issues.

"Intuiting God's beliefs on important issues may not produce an independent guide, but may instead serve as an echo chamber to validate and justify one's own beliefs," writes a team led by Nicholas Epley of the University of Chicago in Proceedings of the National Academy of Sciences.

The researchers started by asking volunteers who said they believe in God to give their own views on controversial topics, such as abortion and the death penalty. They also asked what the volunteers thought were the views of God, average Americans and public figures such as Bill Gates. Volunteers' own beliefs corresponded most strongly with those they attributed to God.

Next, the team asked another group of volunteers to undertake tasks designed to soften their existing views, such as preparing speeches on the death penalty in which they had to take the opposite view to their own. They found that this led to shifts in the beliefs attributed to God, but not in those attributed to other people.
Moral compass

"People may use religious agents as a moral compass, forming impressions and making decisions based on what they presume God as the ultimate moral authority would believe or want," the team write. "The central feature of a compass, however, is that it points north no matter what direction a person is facing. This research suggests that, unlike an actual compass, inferences about God's beliefs may instead point people further in whatever direction they are already facing."

"The experiments in which we manipulate people's own beliefs are the most compelling evidence we have to show that people's own beliefs influence what they think God believes more substantially than it influences what they think other people believe," says Epley.

Finally, the team used fMRI to scan the brains of volunteers while they contemplated the beliefs of themselves, God or "average Americans". In all the experiments the volunteers professed beliefs in an Abrahamic God. The majority were Christian.

In the first two cases, similar parts of the brain were active. When asked to contemplate other Americans' beliefs, however, an area of the brain used for inferring other people's mental states was active. This implies that people map God's beliefs onto their own.
Imagination link

Other researchers say the findings reinforce earlier studies suggesting that thinking about God is intimately linked to the imagination.

These experiments "support previous findings that representations of God seem intimately related to the self, also in terms of brain function", says Uffe Schjødt of Aarhus University in Denmark, whose research published earlier this year showed that praying uses similar brain regions as talking to a friend.

"These findings help explain why supernatural religious agents are often attributed a physical form and issue edicts that resemble the social practices of the culture from which they emerge," says Jordan Grafman of the US National Institute of Neurological Disorders and Stroke in Bethesda, Maryland, whose team earlier this year linked emergence of religion with the development of "theory of mind", the capacity to recognise that other living things have independent thought and intentions.

Journal reference: Proceedings of the National Academy of Sciences, DOI: 10.1073/pnas.0908374106 (in press)